Labirinto
Não me roubes as serenidades que cresceram dentro de mim com as tuas conchas, com a tua inocência de pétalas rosa; não descubras o caminho que levei anos a esconder, ou todas as janelas se abrirão para tu entrares, para me reinventares, para me deixares perdido no labirinto que tinha destruído. Apertei-te contra a parede do nosso quarto e segredei-te palavras ao ouvido, as palavras que eu tinha acabado de criar no meu vocabulário. Senti o teu cabelo nos meus dedos e tremi com as tempestades que entraram devagar, num frémito. Fechei os olhos até te conseguir ver e voei pelas noites inteiras. Em cima da mesa, tinhas deixado um mapa por onde eu podia descobrir-te, eu peguei no mapa e na mesa e saltei para uma ponte de fios donde tinha passagem para o teu corpo. Mas não me deixes pensar estas coisas, porque me desequilibro e caio, porque me deixo tentar por mim e pelos meus dedos que não sabem o caminho de volta....
Não me faças rodopiar pela tua pele como um arco-iris de movimentos, em que cada excerto de mim se compõe na tua infinitude de sentidos para criar dentro de nós um quadro pintado de fresco, uma escultura feita de gestos sublimes, de eu te tocar e de tu me tocares em cada nova lágrima, em cada palavra pronunciada pelos nosso lábios sem se abrirem, em cada sonata desenhada numa pauta imaginária pelos nossos corpos. O teu mapa não me mostrava todas as janelas, deves ter um dia apagado as setas que me levavam ao mais fundo de ti, tive que encerrar as minhas vontades férreas e voar por dentro de cada esfera do teu mundo, para descobrir todas essas órbitas que me faltavam.
Mas confundes-me, o teu olhar de menina não me deixa fugir, não sei por onde hei-de conduzir as minhas mãos, por onde hei-de dizer-te discursos, por onde hei-de deixar fluir a minha vontade. Confundes-me, sinto-me atordoado pelo ar com que me rodeias, pelo ar com que me acaricias, pelo sentido e pelo peso que pões em cada palavra. Confundes-me, fazes de mim uma sala enorme sem portas com luzes a piscar como no Natal, como numa espera ansiosa de um presente novo, díficil e delicioso. Confundes-me, fazes-me ter vontade de fazer coisas fora da órbita que me impus, fora do trajecto que decidi fazer ao voltar para casa, fazes-me corar, fazes-me novo, fazes-me inteiro, deixas-me sem este estranho fôlego de não estar calado.Tiras-me o sono com as tuas mãos sobre o meu corpo, nas magias que florescem de cada gesto teu, na integridade com que me chamas e te deitas ao meu lado para ver as estrelas que plantámos, para ouvir as sonatas que compuseste dentro de mim, que compus dentro de ti, que dedilhámos em violas sem cordas.
Tiras-me o sono, de me invadir esta nova vontade que me aprisona neste novo labirinto de te ter, de te sentir, de ouvir os teus novos segredos ao ouvido, de te colares a cada pedacinho de mim para formarmos este chocolate de nuvens ou estas nuvens de chocolate de que não me canso, de que nunca me canso.É como se os teus gestos fossem feitos de mel, como se a tua voz me respondesse em círculos de luz, não sei se hei-de abraçar-te ou falar-te ao ouvido ou fazer as duas coisas ao mesmo tempo, porque me entorpeces, não tenho vontade de estar em mais lado nenhum e quero pegar em ti e levar-te a carrosséis coloridos e cheios de músicas. Tenho labaredas a queimar-me o peito e só consigo respirar quando me beijas. Deixas-me neste labirinto...
By//tempoinfimo.blogspot.com
Comentários
Este teu labirinto também vive no meu pensamento. Resta-me entrar nele mesmo que não tenha saida, por simplesmente observa-lo seria uma loucura ainda maior, sem qualquer prazer.
Gostei, vou voltar :)
REIKI
Um dia de manhã, a mãe de Margarida nota que as suas jóias foram roubadas durante a noite, precisamente a noite em que Eduardo foi visto ao redor da casa - depois de acompanhar, em segredo, Margarida. Eduardo é preso mas Margarida, para salvar a sua honra, nega o incidente. Quando nada parece salvar Eduardo da prisão, Maria Papoila descobre o verdadeiro ladrão,
Carlos, filho da sua patroa, e apresenta-se em Tribunal, dizendo que passara a noite com o arguido. Eduardo é libertado e Maria Papoila decide regressar à sua terra, magoada, achando que Lisboa não é lugar para ela. Mas, assim que sobe para o comboio....
Maria Papoila, de Leitão de Barros (col. Cinemateca Portuguesa)