Abraços!!!

É UM DESPERDÍCIO NÃO NOS ABRAÇARMOS,

É tempo de abraçar-se… a si mesmo!

“É um desperdício, não nos abraçarmos.” A frase surge há anos atrás de uma troca de ideias entre a jornalista Laurinda Alves e o psicólogo Eduardo Sá.
Verdade absoluta: é um enorme desperdício não nos abraçarmos, não nos tocarmos, não nos beijarmos afectuosamente. O abraço é um embalo, um berço, um inesgotável porto de abrigo. Há que falar abertamente de emoções, tantas vezes caladas. Sem receios ou pudores. Cada um de nós, no mais íntimo de si, esconde fragilidades, acarreta medos e um sem número de dores. Todos nós, até os mais fortes e auto-suficientes. Todos, sem excepção, temos, ‘as nossas chagas escondidas’. Assim dizia Francisco de Assis, quando o menosprezavam por cuidar dos leprosos. O Mundo precisa urgentemente de afectos! E de abraços calorosos, sentidos, para conseguir suplantar uma humanidade massificada, estereotipada, empedernida e cada vez mais esvaziada de afectos.
António Alçada Baptista, o escritor dos afectos, diz a certa altura no seu livro O Anjo da Esperança: “... a gente acaba com vergonha de amar, com vergonha de sofrer, com vergonha de cantar...”.
Outra verdade incontestável, mas dramática. Parece que a dada altura da nossa vida, passada a espontaneidade da infância, as pessoas vão-se cada vez mais envergonhando dos sentimentos e encerrando-se em si mesmas. E, não só se envergonham, como se defendem deles acerrimamente. Interroguemo-nos: quantos abraços afectuosos e verdadeiros demos ao longo da nossa vida? Não falo em pancadinhas nas costas de conveniência. Falo num abraço acolhedor, de braços abertos, daqueles que nos marcam para sempre e que nos salvam, quando em momentos cruciais, os recordamos. Se ao menos percebêssemos o efeito poderoso e ‘curativo’ de um abraço sincero, passaríamos com certeza a abraçarmo-nos uns aos outros, mais assiduamente. É terrível o preconceito que inibe os afectos; que nos tolhe os gestos e as palavras, que inibe de sermos realmente quem somos, de sentirmos o que sentimos, de dizermos claramente o que pensamos.
Parece que anda meio mundo a fazer de conta, a enganar-se a si próprio e aos outros, mas deixar cair as armas é que não! A vida é, de facto, o maior palco do mundo. E neste mundo armadilhado e robotizado em que vivemos, os afectos são preciosos. Eles são imprescindíveis ao nosso bem-estar interior, e não dependem do estatuto ou idade. Não há idade para os afectos, e muito menos para abraçar ou ser-se abraçado. Não pode haver. Não deveria haver. Os nossos pequenos gestos diários, se, afectuosos, - são afinal a nossa obra póstuma: o nosso BI, as nossas impressões digitais, que deixamos gravadas no mais íntimo dos outros. São os afectos que nos fazem um dia ser lembrados – ou não - e nos eternizam.
Há tempos ouvi uma entrevista, um testemunho gratificante e enriquecedor - confesso que fiquei espantada com a humildade das palavras proferidas - de um “general e ex-presidente da república” do nosso país que, sem falsas modéstias, fazia a apologia de um mundo melhor, baseado no aperfeiçoamento interior de cada um de nós: através das palavras, dos gestos ou dos afectos. Era um testemunho de alguém que se preocupava em crescer interiormente, humanamente, e que, com a devida seriedade, reconhecia suas falhas e omissões, mas que, seguramente, queria ir muito mais além.
Há vidas que são legados e obras-primas de afectos. Mas a maioria dessas vidas passa ignorada e sem louvores. O mundo actual baniu os afectos. Hoje em dia os afectos são contabilizados e pagos nos locais apropriados, nos psicólogos. Paga-se para se ser escutado, ouvido, compreendido. O Homem de hoje vive demasiadamente automatizado, vidrado nas tvs e nos zappings que, impiedosamente, lhe comandam a vida e o pensamento. Ou vive plasmado no computador. Isolado. Sem tocar e ser tocado. Mata gestos e afectos, não percebendo que se está auto-destruir, arrastando inexoravelmente consigo toda a humanidade. O Homem já não tem tempo: para viver. Ou morrer, condignamente. E esquece-se dramaticamente todos os dias, que, um simples abraço, de segundos apenas, pode ressuscitar o mundo. É redentor!

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