Colagem: A Aventura da Saudade...


O coração português vive mal. Toda a gente faz falta...A saudade é geral. É um fenómeno de massas. Toda a gente faz falta a toda a gente.
Olhe à sua volta. Há uma probalidade 90 por cento de estar com a pessoa errada. É um genocídio sentimental. Assistimos impassivos, de mala na mão e caneta na boca, ao massacre. Só que não podemos protestar. Aprendemos desde pequenos que saudades são coisas boas. Vem nos livros. Conhecemos os poemas de cor.
Se a alma dói, dizem-nos que é sinal que se tem qualquer coisa no peito com que doer.
Se nos lembramos sem nos querermos lembrar de uma mão que não podemos agarrar, a deixar cair um cigarro, dum cais, dum riso, dizem-nos que isso é bom, que é uma prova de amor.
É como dizer que deitar sangue da cabeça quando se bate com a cabeça no chão é bom, porque é sinal que se está vivo. A ausência, estão sempre a ensinar-nos, é quase melhor do que a presença. A saudade embeleza os sentimentos. A memória melhora. As lágrimas lavam a vista. A saudade dói, mas é doce. É o que nos dizem. Balelas! Podemos protestar, sim senhor! A saudade não é maravilha nenhuma: é apenas sinal de que há alguma coisa que não está bem. Há alguém que não está onde devia estar. O país é errado. A pessoa com quem jantamos é um engano. Saímos à rua e somos rodeados por sobrinhos de outras pessoas. Apanhamos um autocarro cheio de raparigas e nenhuma delas é seguramente a rapariga em que estamos a pensar. Chove. Anda tudo trocado. Onde estão os meus amigos? E os seus?
Passamos a vida a apanhar aviões mentais uns para os outros.
Caímos no oceano. Morremos de saudades. Isto não pode estar certo.
Se estiver certo, nós não estamos bons da cabeça. Os Portugueses gerem a saudade como um tesouro. Fazem-na render. Gostarão de sofrer? Claro que gostam. Se estão a penar por saudade de alguém vão buscar fotografias, reler cartas, ouvir discos antigos.
Passa-lhes pela cabeça ir ter com essa pessoa? Não. Matar uma saudade é quase um crime. A saudade é uma extravagância.
É Amor que se gasta sem proveito...

Comentários

Anónimo disse…
Muito me inspira teu texto. E pensar em saudade assim... Logo essa palavra tao nossa.

Sei que nao consola, mas tambem nos brasileiro ignoramos as intencoes maliciosas da saudade e a veneramos.

Estou acordado daqui pra frente... chega de pontes aereas mentais. Obrigaddo pelo insight.
Tudo de bom
Nik

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